Desde os primeiros tempos, as pessoas procuram cuidar melhor dos seus alimentos utilizando variados métodos de preservação, de modo a controlar a sua deterioração, a transmissão de doenças e a infestação de insetos.
Através dos séculos, as técnicas de preservação dos alimentos foram se desenvolvendo com o aumento do conhecimento científico. Os métodos incluem:
* Congelamento;
* Secagem;
* Enlatamento;
* Preparação de conservas;
* Pasteurização amento;
* Armazenamento em atmosfera controlada;
* Fumigação química;
* Aplicação de aditivos conservantes.
A radiação promete melhorar nossa habilidade de conservar os alimentos e, ao mesmo tempo, reduzir a incidência de algumas doenças próprias dos mesmos.
COMO FUNCIONA A IRRADIAÇÃO DE ALIMENTOS
Irradiação de alimentos é um processo básico de tratamento comparável à pasteurização térmica, ao congelamento ou enlatamento. O processo consiste em submetê-los, já embalados ou a granel, a uma quantidade minuciosamente controlada de radiação ionizante (raios gama, raios-x ou feixe de elétrons), por um tempo prefixado e com objetivos bem determinados. A irradiação funciona pela interrupção dos processos orgânicos que levam o alimento ao apodrecimento. Raios gama, raios x ou elétrons são absorvidos pela água ou outras moléculas constituintes dos alimentos, com as quais entram em contato.
Isto é feito em uma sala ou câmara especial de processamento por um tempo determinado. A fonte mais comum de raios gama, para processamento de alimentos, é o radioisótopo Cobalto 60. O alimento é tratado por raios gama, originados do Cobalto 60 em uma instalação conhecida como irradiador.
Esquema de um irradiador industrial. Consiste de uma sala com paredes de concreto, com dois metros de espessura, que contém a fonte de irradiação (Cobalto 60). Um sistema de esteiras transporta automaticamente o produto para dentro do ambiente de irradiação e após a irradiação o remove de lá. Em casos de ser necessária alguma manutenção na sala de irradiação, a fonte é recolhida ao fundo de uma piscina, cuja água absorve a energia da radiação, protegendo assim os operadores.
OS BENEFÍCIOS
A principal vantagem da irradiação dos alimentos é o fato desta técnica destruir as bactérias prejudiciais assim como outros microrganismos passíveis de causar intoxicações alimentares. Apresenta também outros efeitos, tal como a lenta maturação e germinação, permitindo, desta forma, prolongar a duração dos alimentos. Aplicada a outros produtos, como cacau, café, ervas aromáticas e especiarias, a irradiação oferece uma alternativa segura e limpa (sem produção de resíduos) à pulverização química. No caso de alimentos frágeis, como o caso dos moluscos frescos ou frutas moles, pode ser utilizada a irradiação para remover micróbios prejudicais e prolongar a sua conservação, sem, no entanto, deteriorar a textura do produto, como aconteceria se submetidos a tratamento térmico.
Investigações têm demonstrado que não se verificam perdas significativas de nutrientes ao irradiar alimentos. Uma pequena quantidade de determinadas vitaminas é perdida, semelhante ao que acontece com outros métodos de processamento alimentar. Outros processos de conservação, como o aquecimento, podem causar reduções muito maiores dos nutrientes. As vitaminas, por exemplo, são muito sensíveis a qualquer tipo de processamento. No caso da irradiação, sabe-se que a vitamina B1 (tiamina) é das mais sensíveis, mas mesmo assim as perdas são mínimas. A vitamina C (ácido ascórbico), sob efeito da irradiação, é convertida em ácido ascórbico, que é outra forma ativa da vitamina C.
Em muitos casos, alimentos irradiados em sua temperatura de armazenamento ideal e em embalagens a vácuo durarão mais e manterão por mais tempo sua textura original, sabor e valor nutritivo se comparados com aqueles termicamente pasteurizados, esterilizados ou enlatados.
Feijão e milho irradiados e não irradiados com mais de 5 anos de armazenamento.
DESVANTAGENS
A irradiação pode causar algumas alterações nos alimentos. Os radicais livres fazem com que o alimento adquira sabores desagradáveis, característicos de alimentos irradiados. Alterações de cor também podem ser observadas em carnes e peixes.
As proteínas, o amido e a celulose podem ser quebrados por ação das radiações sofrendo modificações benéficas, como o amolecimento de carnes, ou maléficas com a perda do nutriente.
A SEGURANÇA DOS ALIMENTOS IRRADIADOS
O nível de dose utilizado na irradiação de alimentos é no máximo 10 kGy cujo valor é muito menor aos outros processos, como o aquecimento e o uso de forno de micro-ondas. A irradiação pode induzir a formação de algumas substâncias, chamadas de produtos radiolíticos, na constituição dos alimentos. Estas substâncias não são radioativas e não são exclusivas dos alimentos irradiados. Muitas delas são encontradas naturalmente nos alimentos ou produzidas durante o processo de aquecimento.
Organizações internacionais tais como a FAO e a WHO revisaram estas pesquisas e concluíram que a irradiação de alimentos é segura e benéfica. Similarmente, o valor nutricional de alimentos irradiados foi comparado com o de alimentos tratados por outros métodos, com resultados favoráveis.
REGULAMENTOS
Alimentos irradiados já foram aprovados em dezenas de países ao redor do mundo. Alimentos são, normalmente, aprovados para irradiação em bases individuais. Por exemplo, nos Estados Unidos da América uma aprovação para se irradiar um alimento é concedida pela Administração de Alimentos e Drogas (FDA), depois do exame de uma petição específica para aquele alimento. Uma petição pode ser submetida por um indivíduo, uma empresa privada, uma instituição educacional ou qualquer outra entidade. Outros países têm procedimentos similares. Alimentos irradiados oferecidos para consumo devem ser rotulados com o símbolo internacional denominado radura.
O símbolo deve ser acompanhado pelas palavras “tratado por irradiação” ou “tratado com radiação”. Esta rotulagem é exigida por lei, para informar aos consumidores que eles estão comprando um alimento que foi processado. Este aviso é necessário porque a radiação não deixa nenhum vestígio indicando que o alimento foi processado. Ninguém pode detectar se um alimento foi irradiado seja pela aparência, cheiro ou toque. Isto contrasta com outras técnicas de processamento, tais como cozinhar, enlatar ou congelar, processos em que se percebe o tratamento. Os alimentos irradiados servidos em estabelecimentos como restaurantes não precisam de nenhum rótulo ou declaração no cardápio, pois o alimento oferecido, obviamente terá sido processado.
COMERCIALIZAÇÃO E ATITUDES DO CONSUMIDOR
A falta de informação sobre esta tecnologia e sobre os seus benefícios tem conduzido equívocos e confusões, tendo limitado a adoção deste procedimento. Esta tecnologia oferece-nos uma forma segura e versátil para obter alimentos de boa qualidade, reduzindo as perdas pós-colheita. A rotulagem dos alimentos proporciona aos consumidores a oportunidade de decidir se querem ou não adquirir estes produtos. É necessário refutar os erros generalizados sobre a irradiação, especialmente a ideia de que os alimentos se tornam radioativos. Devem ser garantidas as informações corretas, com base científica, por forma a que consumidores possam fazer escolhas informadas.
INAUGURAÇÃO DA FÁBRICA
Primeira fábrica de irradiação de alimentos do Brasil foi inaugurada na terça-feira (13/05/2003) em Irajá, zona norte do Rio. No café da manhã, que foi oferecido às autoridades, foram servidas frutas irradiadas. A tecnologia trazida ao país pela fábrica norte-americana Sure beam, promete prolongar a vida útil de legumes, frutas, grãos, cereais e especiarias, livrando-os de bactérias e reduzindo o volume de micróbios em produtos de origem animal através da irradiação. A fábrica representa um investimento de R$ 30 milhões. Única das quatro filiais inauguradas fora dos Estados Unidos, presta serviço a produtores e distribuidores alimentícios. Segundo o gerente - geral Nicolau Saptchenko, um caminhão de dez toneladas de mercadoria terá seu conteúdo processado em uma hora, a um custo de cerca de R$ 0,20 o quilo. “Temos capacidade de fazer a desinfecção – operação comparável à pasteurização do leite – de 250 toneladas de alimentos por dia”, diz.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a irradiação como forma de aumentar a segurança no consumo. No Brasil, a atividade foi regulamentada em janeiro de 2001 pela Agência Nacional de Vigilância do Ministério da Saúde. A irradiação pode ajudar o país a vencer barreira foto sanitário. “Evita que junto aos mamões papaia, por exemplo, cheguem moscas ainda inexistentes na Europa e nos Estados Unidos”, diz Saptchenko.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
http://www.cena.usp.br/irradiacao/index.asp.
Toda Fruta, disponível em:
Revista NutriWeb, disponível em:
EUFIC, disponível em:
Irradiação de alimentos, disponível em